D. TERESA

PONTE DE LIMA A TERRA E A GENTE !

sábado, 29 de setembro de 2007

Exposição dedicada ao escritor Eça de Queirós

Está patente na Biblioteca Municipal de Ponte de Lima, uma exposição dedicada ao escritor Eça de Queirós. Por isso decidi publicar o presente resumo biográfico, transcrito por Manuel Amaral, deixando um convite a todos os limianos para não deixarem de visitar a " casa dos livros" de Ponte de Lima por estes dias.

EÇA DE QUEIRÓS

(*25/11/1845 †16/08/1900)

RESUMO BIOGRÁFICO:

Diplomata e escritor muito apreciado em todo o mundo e considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Eça de Queirós nasceu José Maria Eça de Queirós, em Póvoa de Varzim-Portugal, no dia 25 de Novembro de 1845. Seu nome muitas vezes tem sido, de forma equivocada, grafado como "Eça de Queiroz".

Eça de Queirós morreu em Paris-França, no dia 16 de Agosto de 1900 (Funeral em Lisboa - 17 de Agosto)

Era filho do Dr. José Maria Teixeira de Queirós, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e de sua mulher, D. Carolina de Eça. Depois de ter estudado nalguns colégios do Porto matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, completando a sua formatura em 1866. Foi depois para Leiria redigir um jornal político, mas não tardou que viesse para Lisboa, onde residia seu pai, e em 1867 estabeleceu-se como advogado, profissão que exerceu algum tempo, mas que abandonou pouco depois, por não lhe parecer que pudesse alcançar um futuro lisonjeiro. Era amigo íntimo de Antero de Quental, com quem viveu fraternalmente, e com ele e outros formou uma ligação seleta e verdadeira agremiação literária para controvérsias humorísticas e instrutivas. Nessas assembléias entraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Salomão Saraga e Lobo de Moura.

Estabeleceram-se então, em 1871, as notáveis Conferências Democráticas no Casino Lisbonense (V. Conferência), e Eça de Queirós, na que lhe competiu, discursou acerca do "O Realismo como nova Expressão de Arte", em que obteve ruidoso triunfo. Decidindo-se a seguir a carreira diplomática, foi a um concurso em 21 de Julho de 1870, sagrando-se o primeiro colocado e, em 1872, obteve a nomeação de cônsul geral de Havana, para onde partiu. Permaneceu poucos anos em Cuba, no meio das terríveis repressões do governo espanhol.

Em 1874 foi transferido para Newcastle; em 1876 para Bristol e, finalmente em 1888, para Paris, onde veio a falecer. Eça de Queirós era casado com a Sr.ª D. Emília de Castro Pamplona, irmã do conde de Resende. Colaborou na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro, Renascença, Diário Ilustrado, Diário de Notícias, Ocidente, Correspondência de Portugal, e em outras publicações.

Para o Diário de Notícias escreveu especialmente o conto 'Singularidades duma Rapariga Loura' (1873), publicada como 'livre brinde' aos assinantes do jornal, em 1874, e a descrição das festas da abertura do canal do Suez, a que ele assistiu em 1870, publicada com o título 'De Port Said a Suez', no referido jornal, folhetim de 18 a 21 de Janeiro do mesmo ano de 1870. Na Gazeta de Portugal, de 13 de Outubro de 1867, publicou um folhetim com o título 'Lisboa', seguindo-se as 'Memórias de uma Freira' e 'O Milhafre'; em 29 de Agosto de 1869, o soneto 'Serenata de Satã às Estrellas'.

Fundou a Revista Portugal com a colaboração dos principais e mais célebres homens de letras do seu tempo. Saíram desta revista 24 números, que formam 4 tomos de 6 números cada um. Para este jornal é que escreveu as 'Cartas de Fradique Mendes'. Na Revista Moderna publicou o romance 'A Ilustre Casa de Ramires'.

Bibliografia:
- 'A Morte de Jesus', no folhetim Revolução de Setembro (12, 13, 14, 27 e 28 de Abril, e 11 de Maio de 1870);
- 'O Mistério da Estrada de Sintra' (1870), em colaboração com Ramalho Ortigão, publicadas em 1871, no Diário de Notícias, e depois na coleção da Parceria Pereira, de que se tem feito várias edições;
- O Crime do Padre Amaro (1876 - 2ª versão), primeira em 15/Fev/1875;
- O Primo Basílio (1878);
- O Mandarim (1880), publicado no Diário de Portugal;
- Outro Amável Milagre (1885), in AAVV, Um Feixe de Penas, Lisboa, Tipografia de Castro & Irmão;
- Festa de crianças (1885), in AAVV, Beja-Creche, Coimbra, Imprensa da Universidade;
- A Relíquia, Porto (1887), Livraria Internacional de Ernesto Chardron, de Lugan e Genelioux, Sucessores;
- Os Maias - 2Vols. (1888), Porto, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, de Lugan e Genelioux, Sucessores;
- Fraternidade (1890), in AAVV, Anátema, Coimbra, Gaillaud, Aillaud & C.ª;
- 'As Farpas' (1890/91), crônica mensal da política, das letras e dos costumes, por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, iniciada em Maio de 1871- Uma Campanha Alegre - de As Farpas (2vols - 1890/91), Lisboa, Companhia Nacional Editora;
- As Minas de Salomão (trad.) (1891), de Rider Haggard, Porto, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, de Lugan e Genelioux, Sucessores;
- Almanaques (prefácio - 1895), in Almanaque Enciclopédico para 1896, Lisboa, Livraria A. M. Pereira;
- Um Génio que era um Santo (1896), in AAVV, In Memoriam de Antero de Quental, Porto, Mathieu Lugan;
- A Duse (1898), in AAVV A Duse, Lisboa, Tipografia da Companhia Nacional Editora;
- A Correspondência de Fradique Mendes (1900) - em 1889 na Revista de Portugal;
- A Ilustre Casa de Ramires (1900);
- A Cidade e as Serras (1900);
- Episódios da Vida Romântica, em 2 tomos;
- Eusébio Macário;

As obras de Eça de Queirós, na maior parte, têm tido diversas edições, tanto em Lisboa como no Porto. Colaborou no livro 'In Memoriam', em homenagem a Antero de Quental. São de Eça de Queirós os interessantes prólogos dos Almanachs Encyclopedicos de 1896 e 1897, por ele dirigidos e publicados pelo falecido editor António Maria Pereira. Eça de Queirós, quando faleceu, estava trabalhando em romances inspirados nas lendas de S. Cristóvão e de S. Frei Gil, o celebrado bruxo português. Devido à iniciativa de amigos dedicados do falecido escritor, elevou-se uma estátua em mármore para perpetuar a sua memória, a qual está situada no Largo de Quintela. É uma verdadeira obra artística do escultor Teixeira Lopes. Figura Eça de Queirós curvado sobre a Verdade, lendo-se no pedaço de mármore tosco, que serve de pedestal à Estátua da Verdade, estas palavras, que foram ali esculpidas. «Sobre a nudez forte da Verdade, o manto diáfano da fantasia».
A inauguração realizou-se no dia 9 de Novembro de1903, discursando os Srs. Conde de Arnoso e de Ávila, Ramalho Ortigão, Dr. Luís de Magalhães, Aníbal Soares e Antônio Cândido; o ator Ferreira da Silva recitou uma poesia do Sr. Alberto de Oliveira, falando por último o Sr. Conde de Resende, cunhado de Eça de Queirós, agradecendo muito comovido, em nome da família do falecido escritor, a homenagem prestada à sua memória.

Transcrito por Manuel Amaral

Informações Adicionais (click):
1. Biblioteca Nacional de Portugal
2. Fundação Eça de Queirós
3. Enciclopédia WikiPedia
4. Instituto Camões

sábado, 22 de setembro de 2007

FIGURAS DA CULTURA LIMIANA

ALFREDO CÂNDIDO:

UM GRANDE CARICATURISTA LIMIANO

Nasceu em Arcozelo, nas «verdes margens do Lima», como ele gostava de dizer, a 27 de Janeiro de 1879. Vem dos tempos das primeiras letras o seu génio criador, a sua «maldita queda para os bonecos». Parece que em criança se perdia nos labirintos da imaginação, nos jogos de olhar, no manejo do lápis ou nos primeiros delírios tripudiantes das linhas curvas. Devia ter feito caricaturas de alguns professores e por razão disso mudou várias vezes de escola até chegar à Industrial de Viana do Castelo. Foi lá que acabou o curso. Depois fez-se à vida. Chegou a Lisboa nos finais do século XIX. «Por causa de uma caricatura, estando depois empregado,» lembra ele anos mais tarde, «fui inesperadamente posto na rua. Foi então que me fiz navegador e cheguei a atravessar as florestas incultas do Brasil, aonde fiz os meus estudos d’apprès nature, pintando os retratos de vários surucucus que pousaram graciosamente.»

Depois, Alfredo Cândido iniciou no Rio de Janeiro e em São Paulo uma carreira resplandecente ligada aos grandes momentos do jornalismo e da charge brasileira da época. Colaborou em várias revistas ilustradas: «Portugal Moderno», «Cidade do Rio» de José do Patrocínio (1), O Malho (2), A Larva, «irreverente e feroz como o ruído d’uma cascavel.» Foi nesta última revista que publicou uma caricatura que fez história: «mostrava Rui Barbosa (3) com uma enorme cabeça, repleta de escadas e estantes de livros. (…) Rui era celebrado por uma cultura vasta, consagrado como um depositário do saber nacional, e por isso era como a versão humana da Biblioteca.» (4)

Alfredo Cândido deixava em cada obra a pequena história de um instante complexo, de um quadro tenso de alegria ou de tristeza, de uma consonância ou dissonância com a vida. É verdade que buscava frequentemente os casos estapafúrdicos dos homens no tempo através das suas representações criativas e acessíveis aos outros homens. Por isso, os seus queixumes: «uma caricatura representou sempre uma ameaça e uma espera; d’uma vez foram suspensos três jornais e eu estive quase a ser também definitivamente suspenso.»

Apesar de tudo, o humorista limiano teve um papel de destaque na cultura brasileira. Conviveu com grandes vultos das artes e das letras no Café dos Artistas (O Papagaio). Chegou a compor a letra de uma valsa (Despedida em Lágrimas) para J. Bulhões (5). Em 1912, talvez um pouco antes, está em Portugal. Colabora no «Brasil Portugal», no «Vira», «Novidades». Faz as caricaturas de ministros, juízes, cambistas, poetas, banqueiros, republicanos e monárquicos: Conselheiro Luciano Cordeiro; Juiz Conselheiro Francisco Mário da Veiga; Dr.Teófilo Braga; Pereira de Miranda; Dr. Afonso Costa; Moreira Júnior; Henrique Burnay; Dr. Jaime de Magalhães Lima; Fialho de Almeida; Dr. António José de Almeida; Dr. Manuel de Arriaga; Conselheiro Dr. Hintze Ribeiro; Dr. Bernardino Machado; Rei D. Carlos; Marquês de Soveral; José Maria Alpoim; Guerra Junqueiro; Conselheiro Dr. João Franco; Dias Ferreira; Mariano de Carvalho. Ilustra vários livros em prosa ou poesia, participa nas duas primeiras exposições dos Humoristas (1912, 1913) e em muitas outras que se realizam nas cidades de Lisboa e Porto. Nessa década, percorreu o país em viagens românticas na busca de temáticas para as suas telas. E em 1923 inaugura uma exposição de aguarelas no Rio de Janeiro. Lá está o seu Minho em «domingo de Páscoa», ou em «dia de romaria», com a «casinha rústica da aldeia», as «flores do campo», os «carros de bois», a «eira». O lirismo do seu pincel é reconhecido com a primeira medalha de aguarela da Sociedade Nacional de Belas-artes.

Foi Presidente do Conselho Superior da Federação das Colectividades de Recreio e Vice-presidente da assembleia-geral da Casa do Minho.

Morreu em Lisboa, a 27 de Julho de 1960.

Luís Dantas

Notas

(1) José do Patrocínio. Orador, Poeta e Romancista. Foi um dos mais brilhantes Jornalistas brasileiros de todos os tempos.

(2) O primeiro número do Malho saiu a 20 de Setembro de 1902. …«ele é o Malho; tudo que passar a seu alcance será a bigorna. O povo rirá ao ver como se bate o ferro nesta oficina e só com isso ficaremos satisfeitos, com a tranquila consciência de quem cumpre um alto dever social e concorre eficazmente para o melhoramento e progresso da raça humana.»

(3) Rui Barbosa. Senador, jurista, jornalista e diplomata. Foi Presidente da Academia Brasileira de Letras.

(4) Gonçalves, João Filipe, Enterrando Rui Barbosa: um estudo de caso da construção fúnebre de heróis nacionais na Primeira República, Rio de Janeiro.

(5). J. Bulhões. Compositor e Pianista carioca. Tocou em todos os clubes do Rio de Janeiro. Seu grande sucesso foi a marchinha «Ai, Filomena», muito cantada no Carnaval de 1915.

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