D. TERESA

PONTE DE LIMA A TERRA E A GENTE !

sábado, 22 de setembro de 2007

FIGURAS DA CULTURA LIMIANA

ALFREDO CÂNDIDO:

UM GRANDE CARICATURISTA LIMIANO

Nasceu em Arcozelo, nas «verdes margens do Lima», como ele gostava de dizer, a 27 de Janeiro de 1879. Vem dos tempos das primeiras letras o seu génio criador, a sua «maldita queda para os bonecos». Parece que em criança se perdia nos labirintos da imaginação, nos jogos de olhar, no manejo do lápis ou nos primeiros delírios tripudiantes das linhas curvas. Devia ter feito caricaturas de alguns professores e por razão disso mudou várias vezes de escola até chegar à Industrial de Viana do Castelo. Foi lá que acabou o curso. Depois fez-se à vida. Chegou a Lisboa nos finais do século XIX. «Por causa de uma caricatura, estando depois empregado,» lembra ele anos mais tarde, «fui inesperadamente posto na rua. Foi então que me fiz navegador e cheguei a atravessar as florestas incultas do Brasil, aonde fiz os meus estudos d’apprès nature, pintando os retratos de vários surucucus que pousaram graciosamente.»

Depois, Alfredo Cândido iniciou no Rio de Janeiro e em São Paulo uma carreira resplandecente ligada aos grandes momentos do jornalismo e da charge brasileira da época. Colaborou em várias revistas ilustradas: «Portugal Moderno», «Cidade do Rio» de José do Patrocínio (1), O Malho (2), A Larva, «irreverente e feroz como o ruído d’uma cascavel.» Foi nesta última revista que publicou uma caricatura que fez história: «mostrava Rui Barbosa (3) com uma enorme cabeça, repleta de escadas e estantes de livros. (…) Rui era celebrado por uma cultura vasta, consagrado como um depositário do saber nacional, e por isso era como a versão humana da Biblioteca.» (4)

Alfredo Cândido deixava em cada obra a pequena história de um instante complexo, de um quadro tenso de alegria ou de tristeza, de uma consonância ou dissonância com a vida. É verdade que buscava frequentemente os casos estapafúrdicos dos homens no tempo através das suas representações criativas e acessíveis aos outros homens. Por isso, os seus queixumes: «uma caricatura representou sempre uma ameaça e uma espera; d’uma vez foram suspensos três jornais e eu estive quase a ser também definitivamente suspenso.»

Apesar de tudo, o humorista limiano teve um papel de destaque na cultura brasileira. Conviveu com grandes vultos das artes e das letras no Café dos Artistas (O Papagaio). Chegou a compor a letra de uma valsa (Despedida em Lágrimas) para J. Bulhões (5). Em 1912, talvez um pouco antes, está em Portugal. Colabora no «Brasil Portugal», no «Vira», «Novidades». Faz as caricaturas de ministros, juízes, cambistas, poetas, banqueiros, republicanos e monárquicos: Conselheiro Luciano Cordeiro; Juiz Conselheiro Francisco Mário da Veiga; Dr.Teófilo Braga; Pereira de Miranda; Dr. Afonso Costa; Moreira Júnior; Henrique Burnay; Dr. Jaime de Magalhães Lima; Fialho de Almeida; Dr. António José de Almeida; Dr. Manuel de Arriaga; Conselheiro Dr. Hintze Ribeiro; Dr. Bernardino Machado; Rei D. Carlos; Marquês de Soveral; José Maria Alpoim; Guerra Junqueiro; Conselheiro Dr. João Franco; Dias Ferreira; Mariano de Carvalho. Ilustra vários livros em prosa ou poesia, participa nas duas primeiras exposições dos Humoristas (1912, 1913) e em muitas outras que se realizam nas cidades de Lisboa e Porto. Nessa década, percorreu o país em viagens românticas na busca de temáticas para as suas telas. E em 1923 inaugura uma exposição de aguarelas no Rio de Janeiro. Lá está o seu Minho em «domingo de Páscoa», ou em «dia de romaria», com a «casinha rústica da aldeia», as «flores do campo», os «carros de bois», a «eira». O lirismo do seu pincel é reconhecido com a primeira medalha de aguarela da Sociedade Nacional de Belas-artes.

Foi Presidente do Conselho Superior da Federação das Colectividades de Recreio e Vice-presidente da assembleia-geral da Casa do Minho.

Morreu em Lisboa, a 27 de Julho de 1960.

Luís Dantas

Notas

(1) José do Patrocínio. Orador, Poeta e Romancista. Foi um dos mais brilhantes Jornalistas brasileiros de todos os tempos.

(2) O primeiro número do Malho saiu a 20 de Setembro de 1902. …«ele é o Malho; tudo que passar a seu alcance será a bigorna. O povo rirá ao ver como se bate o ferro nesta oficina e só com isso ficaremos satisfeitos, com a tranquila consciência de quem cumpre um alto dever social e concorre eficazmente para o melhoramento e progresso da raça humana.»

(3) Rui Barbosa. Senador, jurista, jornalista e diplomata. Foi Presidente da Academia Brasileira de Letras.

(4) Gonçalves, João Filipe, Enterrando Rui Barbosa: um estudo de caso da construção fúnebre de heróis nacionais na Primeira República, Rio de Janeiro.

(5). J. Bulhões. Compositor e Pianista carioca. Tocou em todos os clubes do Rio de Janeiro. Seu grande sucesso foi a marchinha «Ai, Filomena», muito cantada no Carnaval de 1915.

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