D. TERESA

PONTE DE LIMA A TERRA E A GENTE !

domingo, 28 de outubro de 2007

BRAZÃO DE ARMAS DA VILA DE PONTE DE LIMA SEC XIX

sábado, 20 de outubro de 2007

A RIBEIRA DE OUTROS TEMPOS-UMA OBRIGAÇÃO DA CÁMARA

Folheando o velhinho Almanach illustrado do Comércio do Lima, de 1907, deparamos com uma interssante curiosidade, uma regalia de que a nossa freguesia gozava desde tempos imemoriais e que demonstra a importancia da mesma nesse tempo.
Decidi transcreve-la, para que todos possam partilhar dessa noticia.
Uma obrigação da camara
A visinha freguezia de S. João da Ribeira usa duma regalia immemorial.
No dia 24 de Junho, em todos os annos a Camara tinha obrigação de, encorporada, ir á igreja parochial da freguezia assistir a uma missa que ella, Camara, mandava celebrar pelo seu capellão.
Os parochos da freguezia prontificaram-se sempre a fornecer paramentos e tudo o mais que é necessário para a celebração do incruento sacrificio.
Este uso ainda hoje existe se bem que deixa de ter o tom de grandeza que antigamente lhe era imprimida.
Para esta celebração a Camara era obrigada a levar a bandeira mas, por o caminho ser longo e aspero era a bandeira guardada numa casa do Arrabalde de S. João, sendo a casa escolhida para este deposito a do dr. Desembargador João de Sá Sotto Maior, hoje da exª srª Condessa de Aurora.
No anno de 1755 deixou de ser depositada nesta casa o que deu logar a uma acção de força intentada por o então proprietário contra a Camara, ficando esta vencedora, pois foi-lhe dada sentença favoravel em 24 de Janeiro de 1758.

sábado, 13 de outubro de 2007

O COUTO DE PARADELA:

Contributo para o esclarecimento da história da freguesia da Ribeira

É impossível falar sobre “O Couto de Paradela”, dissociando-o da história da freguesia da Ribeira, pois os caminhos cruzam-se.
Embora existam referências bastante antigas, dando conta da existência do referido Couto; Aturadas pesquisas permitiram concluir que na verdade, o mesmo nunca existiu, mas sim um conjunto de terras que tiveram algum privilégio, mas não constituíam um Couto. (*)
Assim, Bermudo II, Rei de Leão e das Astúrias, filho bastardo de D. Ordonho III, que era casado com D. Elvira, do Condado Portucalense, obrigou o seu primo RamiroIII, a dar-lhe as terras que possuía na Ribeira Lima.
Em 985, Bermudo II e sua Mulher, doaram as referidas terras de Crasto, de Casais em S. Tiago da Gemieira e Paradela em S. João da Ribeira, ao seu vassalo, o Conde D. Telo Alvites e mulher Dª Muma, como agradecimento pelo esforço que estes lhe prestaram durante as guerrilhas que manteve contra D.Ramiro.
Sem geração, os condes doaram os bens ao Mosteiro de S. Paio de Antealtares, da ordem de S. Bento em Santiago de Compostela.
Em Março de 1063, os monges beneditinos, pedem a D. Fernando de Leão, privilégios para as terras da Ribeira Lima, com o intuito de construírem um cenóbio em Mazarefes.
A ordem beneditina conservou estas terras durante muitos anos na sua posse.
No reinado de D. Fernando de Portugal, os monges entram em litígio com o Abade Geral da Ordem em Compostela, a pretexto de que o mesmo era partidário das hostes de D. Henrique rei de Castela, que lutava contra Portugal.
Sem rendimentos dessas terras durante muitos Anos decidem vende-las a Mendes Barredo, Alferes-mor do Rei Afonso V, filho de Gonçalo Pereira, que tinha casado com uma parente, Dª Maria Pereira.
Como estes não tiveram filhos, estas terras e todos os privilégios das mesmas, passam para a posse do seu parente Diogo Pereira, filho de Lopo Rodrigues Cerveira, casado com Dª Brites Pinheiro, neta do Alcaide de Vila nova de Cerveira e sua mulher, Dª Maria Pereira, irmã do Condestável D. Nuno Alvares Pereira.
Diogo Pereira, senhor de uma enorme fortuna, recebia dos seus caseiros, ¼ de todos os frutos, incluindo madeiras.
Este fidalgo, usufruía ainda do direito de nos seus domínios, ninguém poder construir casa com sobrado, bem como possuir Lagar ou Eira.
Nunca chegou a casar, mas teve um filho da sua amante “ Madurara”, a quem foi dado o nome de Fernão Pereira, que herdou de seu pai as fazendas, coutos e padroados.
Foi seu único filho, Martin Pereira, herdeiro de avultada fortuna, tendo deixado todos os seus bens ao filho, Jorge Pereira, senhor da casa Real, casado com a limiana Dª Isabel Pires, filha de Gonçalo Pires Cerqueira, feitor dos direitos reais da ilha da Madeira, casado com Dª Leonor Malheiro.
Foi um dos seus filhos Gaspar Pereira Chanceler – mor do Reino, senhor dos coutos de Mazarefes e “ Paradela”e dos padroados das igrejas de S. João da Ribeira e S. Tiago da Gemieira, casado com Dª Catarina de Paiva.
Aproveitando-se dos altos cargos que exercia no reino, obteve permissão para colocar um mordomo, no “Couto de Paradela” para olhar pelas novidades, tendo este privilégio terminado com a sua morte.
Estas terras passaram mais tarde para a posse de Nuno Alvares Pereira, que lutou ao lado do rei D. Sebestião em Alcácer Quibir, onde foi feito prisioneiro.
Chegamos então, ao proprietário mais temido, das terras de Paradela, o Fidalgo Rui Pereira, solteiro, senhor de Mazarefes, celebre pelas suas actividades criminosas, de que se destaca o célebre assalto ao Paço de Vila Fria, onde cortou o nariz a Isabel da Silva, moça abastada, por quem se roía de amores.
Rui Pereira, dizendo-se senhor do “ Couto de Paradela”, obrigava os moradores a trabalhar para si, não permitia que ninguém construísse casa ou muros, derrubando tudo, sempre que os moradores não acatassem as sua disposições.
Não deixava que os moradores pudessem possuir Lagar ou Eira, sob pena de incorrerem em desobediência, sujeitando-se às consequências que foram descritas.
Fartos destas imposições, os moradores de Paradela, resolveram libertar-se do jugo deste fidalgo, recorrendo aos Vereadores e Procurador da Vila de Ponte de Lima, a cujo seu termo pertencia esta freguesia, obtiveram a provisão Régia, dada em Madrid, a 5 de Agosto de 1590, para o Corregedor da Comarca citar Rui Pereira e obriga-lo a apresentar os títulos em que se fundava para se dizer senhor do Couto de Paradela.
Mas, quando chegou a notificação, já Rui Pereira estava longe do país, fugindo à pena a que tinha sido condenado, por sentença de 12 de Dezembro de 1590, pela prática do assalto ao Paço de Vila Fria.
Tinha embarcado, juntamente com um primo Jácome Pereira, no porto de Viana, a bordo da Nau S. Salvador, que fazia carreira para a Índia.
Morreu devido a um naufrágio, no Cabo da Boa esperança.
Foi então seu irmão, Nuno Alvares Pereira, homem de enorme talento, que foi citado para apresentar os referidos títulos e nos seus mentirosos embargos, declarou que, seu pai, seu irmão e ele, nunca exerceram actos de jurisdição em Paradela!
Em face desta confissão, declarou que não era senhor do Couto de Paradela, mas de fazendas e herdades naquela aldeia, que de Couto tinha só o nome.
O Corregedor, por sentença de 6 de Janeiro de 1598, decidiu o pleito a favor dos vereadores de Ponte de Lima, tendo essa sentença sido confirmada pela Relação do Porto em 29 de Maio de 1599 e pela Casa da Suplicação, a 3 de Janeiro de 1600.
Nos dois séculos seguintes, as propriedades mantiveram-se sempre na família, com lutas entre si pela posse das mesmas.
Já no século XIX, em Paradela restava apenas uma notável casa com torre e quinta, que devido à acção do tempo se encontrava bastante arruinada.
A propriedade, foi adquirida pelo então abade da freguesia, o Padre João Coelho de Araújo, ao Conde de Azevedo a quem pertencia, tendo corrido o boato, de que a mesma tinha sido trocada por um livro valioso e raro que o abade possuía.
Não está suficientemente documentado para que se possa atestar a veracidade do mesmo, contudo sabe-se do gosto e a predilecção do Conde de Azevedo pelos livros e alfarrábios, o que pode de algum modo dar fundamento ao mesmo.
O padre Coelho de Araújo, mandou derrubar a casa e torre, para com as pedras que dai retirou, poder construir muros na sua propriedade que possuía junto à igreja paroquial.
Ainda hoje, a Quinta da Torre, é também conhecida pela Quinta do Privilégio, actualmente na posse da família Dias, com a alcunha de “Balaia”.

Mosteiro de S Paio de Antealtares

(*) Terra que não pagava impostos por pertencer a um nobre, privilégio, abrigo

Bibliografia:
Almanaque ilustrado do comercio do Lima, 1924 e 1933
A Igreja Paroquial de S. Nicolau de Mazarefes, texto de Porfírio P. Silva
Ponte de Lima no Tempo e no Espaço, Matos Reis, 2000